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A rotina do Executivo de Finanças costuma ser tomada por longas horas de trabalho e uma intensa busca por resultados. Dessa forma, a fim de manter a qualidade e o prazo das entregas, e, assim, obter sucesso na função, o profissional da área necessita, além de conhecimento técnico e habilidade de priorização, desenvolver sua inteligência emocional, ou seja, a capacidade de compreender e administrar as próprias emoções.

Dentro desse contexto, o conceito de inteligência emocional envolve algumas habilidades que são essenciais para a rotina no ambiente corporativo: autoconhecimento, equilíbrio, automotivação, empatia e criação de alianças são algumas delas. Ao estimulá-las, o Executivo de Finanças se torna ainda mais capaz de trabalhar em equipe, gerir pessoas, estabelecer uma boa comunicação e influenciar as demais áreas da empresa – como Vendas, Supply Chain e TI, além de  adaptar-se às mudanças do mercado e das necessidades do negócio da companhia. Com isso, ele aumenta tanto o seu rendimento e nível de entrega, quanto o próprio bem-estar pessoal.

Em âmbito profissional, o exercício da inteligência emocional impacta diretamente os indicadores das companhias. Líderes emocionalmente equilibrados criam ambientes propícios ao desenvolvimento de pessoas, por meio de maior conexão humana, escuta ativa e uma cultura de compartilhamento. O incentivo à descoberta do propósito de carreira e a conexão deste propósito ao dia a dia do trabalho também é estimula o engajamento, motivando o time a atingir as metas e os resultados esperados. Em adição a isso, a fim de que haja esse impacto positivo na área de Finanças e em toda a companhia, é necessário que não somente alguns profissionais desenvolvam individualmente essas competências emocionais, mas principalmente que as organizações as estimulem em grupo,  por meio de palestras, programas de mentoria e políticas de incentivo à humanização e à conexão com as emoções. Empresas com cultura voltada à transparência, por exemplo, onde expressar vulnerabilidade se trata de algo natural, tendem a ter ambientes muito mais humanos, colaborativos e consequentemente profissionais mais engajados e negócios mais bem-sucedidos.

Quanto ao aspecto pessoal, o desenvolvimento das habilidades emocionais também contribui significativamente para a satisfação do profissional. Segundo o EQ Study Women CFO’s, realizado pela SunUp – empresa especializada em inteligência emocional -, o aumento do quociente emocional das Diretoras Financeiras que participaram do estudo gerou um aumento de 11% na qualidade de vida destas Executivas, com um destaque de 14% no senso de Conquista. Dessa forma, ao saber gerenciar as próprias emoções, o profissional financeiro acaba por desenvolver um senso de bem-estar que corrobora o equilíbrio entra vida pessoal e profissional, também conhecido como work-life balance, bem como o gerenciamento de adversidades e emoções do dia a dia.

Com isso, a fim de compreender melhor a importância da inteligência emocional para o profissional de Finanças, convidamos três Executivos da área para compartilharem suas perspectivas e vivências em relação ao tema.

Ednalva Costa Vasconcelos

Diretora Financeira LATAM | SAS

Jairo Carolinski

CFO Brazil | The Mosaic Company

Solange Waileman

Founder | SunUp Inteligência Emocional

Considerando a inteligência emocional como sendo um exercício diário, que práticas o Executivo de Finanças pode adotar na sua rotina para alcançar o equilíbrio ao lidar com suas emoções?

Ednalva Costa Vasconcelos: Existem várias técnicas e estratégias que podem ser adotadas para alcançar este equilíbrio, desde trabalhar sua respiração e fazer exercícios físicos, até evitar tomar decisões importantes caso você esteja vivendo um turbilhão de emoções e sentimentos, mas, acima de tudo, é necessário conhecer e respeitar seus limites. Também é muito importante lembrar que reclamar não ajuda, e que os erros cometidos no passado, fracassos e falhas podem nos ajudar a solucionar, de uma forma mais equilibrada, problemas atuais.

Além disso, eu costumo fazer um inventário do meu dia. Pondero o dia anterior, penso nas minhas metas, faço uma análise das oportunidades e ameaças do meu dia e assim me planejo para saber como priorizar as minhas escolhas e o que eu poderei fazer para alcançar os meus objetivos.

Eu sinto que esse planejamento me ajuda principalmente a saber o que eu posso controlar e o que eu não posso, e isso me ajuda a evitar a ansiedade ou qualquer sentimento indesejado, e a melhor administrar, dentro das minhas competências, os meus esforços.

Jairo Carolinski: Antes de mais nada, é essencial reforçar a importância de incentivar o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. O profissional financeiro precisa, por natureza, ter calma, foco e grande controle para desempenhar seu papel com sucesso, seguir o compliance e direcionar corretamente a empresa. Estar bem consigo mesmo é essencial para isso. É preciso arranjar tempo para a família, atividades físicas e, inclusive, usufruir os benefícios fornecidos pela empresa (no caso da Mosaic Fertilizantes, meditação, Gympass, entre outros).

Para ser efetivo, é importante trabalhar com atenção para finalizar o trabalho com excelência na primeira vez, sem refazer e sem necessidade de refinar relatórios e outros materiais.

Também é importante ter empatia com as áreas clientes e se empenhar para atender às suas necessidades. Gerenciar expectativas de forma adequada – tanto as próprias quanto as de seus clientes internos e externos – e cumprir o que for alinhado marcam o início de uma vida equilibrada e com menos estresse.

Solange Waileman: Primeiramente, o Executivo precisa aceitar que as emoções são mensageiras portadoras de alguma informação importante. Não existem emoções boas ou más, todas são igualmente relevantes e parte essencial no nosso processo decisório.

Somos levados a acreditar que quando agimos racionalmente estamos excluindo as emoções das nossas vidas, no entanto, quanto mais tentamos entorpecê-las, maior é o sofrimento e menor a nossa eficácia.

E todo processo de desenvolvimento emocional começa pelo autoconhecimento. Dar nome aos seus sentimentos e identificar seus padrões de comportamento são práticas fundamentais para a busca do equilíbrio.

Como o Executivo de Finanças pode contribuir para o desenvolvimento do equilíbrio emocional dos seus liderados?

Ednalva Costa Vasconcelos: A principal busca do líder é a de fazer com que a sua equipe seja capaz de construir resultados maiores do que ela faria, tanto se estivesse sozinha, quanto na soma dos seus esforços.

A autenticidade do líder, aliada a um esforço íntegro na busca de objetivos sem perder de vista a genuína preocupação com as pessoas, empodera e valoriza os membros do time, de forma a trazer engajamento genuíno e motivação real em torno dos objetivos comuns da organização. No entanto, se o ambiente for muito dinâmico, ou situações adversas como passamos com o COVID-19, a instabilidade natural a essa dinâmica aumenta a insegurança da equipe, o que pode levar as pessoas a perderem o equilíbrio emocional.

Nesta hora, o Executivo de Finanças deve buscar equilibrar suas tomadas de decisões, que muitas vezes têm uma abordagem 100% lógica, com a comunicação empática, a fim de inspirar e motivar as pessoas e promover um ambiente de estabilidade e confiança.

Jairo Carolinski: Inicialmente, é preciso dar o exemplo (walk the talk), mantendo a calma inclusive em momentos de grande pressão. Na sequência, é necessário tratar todos de forma respeitosa e instigar que todos façam o mesmo na equipe.

Outro ponto relevante é investir na melhoria da comunicação da equipe. Falar com maior clareza, no tom adequado, diminui ruídos e mal-entendidos entre a equipe e outras áreas, evitando erros e conflitos desnecessários. Também é muito importante incentivar a equipe a ter equilíbrio entre vida pessoal e profissional.

Solange Waileman: Todo líder deve ser o exemplo para sua equipe. Líderes emocionalmente equilibrados criam ambientes de trabalho agradáveis e propícios ao desenvolvimento.

Pessoas não abandonam empresas, na maioria das vezes elas abandonam seus “líderes”, visto que a relação líder X liderado é uma das maiores causas de estresse nas relações de trabalho. Ao trabalhar seu próprio desenvolvimento emocional, o líder se tornará mais apto a se conectar com suas próprias emoções e, consequentemente, com as emoções dos seus liderados através do exercício da escuta ativa, da empatia e da compaixão.

Quais são as principais iniciativas que uma organização deve estimular para que seus funcionários desenvolvam habilidades comportamentais relevantes para a manutenção da inteligência emocional no dia a dia? De forma geral, qual é o nível de maturidade que você acredita que as empresas possuem sobre este tema?

Ednalva Costa Vasconcelos: Treinamentos relacionados aos soft skills devem compor a agenda de fortalecimento de competências, em especial aqueles ligados ao desenvolvimento do autoconhecimento e técnicas de comunicação não violenta.

Paralelamente a essa ação, as empresas podem criar programas de wellness, estimular o diálogo acerca das dificuldades inerentes ao trabalho em alta performance e até mesmo promover momentos de descompressão nas agendas dos times.

O mundo pós-pandemia trouxe um desafio adicional às estratégias de comunicação e integração das equipes, o que, em última análise, são fatores primordiais para a promoção da inteligência emocional.

Jairo Carolinski: Alguns pontos importantes são:

  • Conhecer os desafios das outras áreas;
  • Construir relacionamento sólido com outros profissionais;
  • Incentivar as boas práticas entre vida profissional e pessoal.

 

Na Mosaic Fertilizantes, temos uma boa maturidade neste sentido e, a implementação e incentivo para que todos sigam as regras simples (ser transparente; tomar decisões mesmo difíceis, focar em soluções simples, entre outras) ajudam a manter um bom clima de relacionamento entre as áreas. Respeito é prioridade e todos precisam dar o exemplo (walk the talk).

Uma outra prática que é importante, porém mais difícil, e percebo ser um obstáculo ainda, é demonstrar vulnerabilidade. Um exemplo é que muitos evitam pedir ajuda ou assumir que não irão entregar algumas demandas no prazo estipulado. Evitam negociar prazos para, talvez, não colocarem em risco sua credibilidade. E isso causa um estresse não só nessa pessoa, mas em toda a equipe. É importante reforçar que, algumas vezes, assumir que não consegue entregar algo no prazo ou da forma desejada é um ato de coragem que não torna o profissional incompetente. Pedir ajuda também é necessário. A empresa trabalha em rede e, muitas vezes, é preciso ajuda alheia para alcançar o objetivo necessário.

Solange Waileman: Todo programa de desenvolvimento comportamental deveria começar pela alta administração, a qual normalmente dita a cultura organizacional. Esse desenvolvimento passa pelo autoconhecimento e pela criação de uma cultura de transparência e confiança, na qual as pessoas se sintam ouvidas e tenham suas necessidades emocionais atendidas.

Um senso real de propósito, do porquê existimos, é também fundamental para que os colaboradores possam conectar seus propósitos individuais ao seu dia a dia e, assim, ativar sua motivação interna e seu senso de satisfação.

De uma forma geral, vejo que as empresas começaram a entender que os resultados são gerados pelas pessoas, e que pessoas emocionalmente felizes e equilibradas serão mais eficazes. No entanto, ainda vemos muitos discursos sobre a importância da saúde mental, mas ainda pouca ação na busca e correção da real causa dos problemas, os quais, muitas vezes, são líderes despreparados, sistemas defasados e burocracia excessiva.

Como o desenvolvimento de competências relacionadas à inteligência emocional pode impactar no atingimento de metas da área de Finanças e nos próprios indicadores financeiros de uma empresa?

Ednalva Costa Vasconcelos: Um time com um forte índice de inteligência emocional é mais empático que a média. Pensando em um time de Finanças, em que normalmente temos perfis comportamentais mais introvertidos e centrados na racionalidade, o desenvolvimento da empatia diminui a tensão do dia a dia e fortalece o trabalho coletivo.

Líderes que sabem como se comunicar adequadamente com seus colaboradores são mais respeitados e tem equipes mais colaborativas e menos tensas. São pequenas ações do dia a dia, com a promoção do diálogo e o esforço constante na construção do time, que aumentam o engajamento da equipe e por consequência potencializam a capacidade da empresa de atingir os resultados planejados.

Jairo Carolinski: A área financeira tem como objetivo influenciar as outras áreas de negócios a tomar boas decisões. Como todo o resto da empresa, a equipe de Finanças é feita por pessoas e é essencial que elas estejam bem para que o trabalho tenha um bom resultado. Se os funcionários não estiverem bem, poderão cometer erros, ocasionando problemas sérios para a companhia.

Por isso, é importante que os líderes estejam sempre atentos aos seus colaboradores, observando mudanças comportamentais no time e atuando de forma proativa para apoiar sempre que necessário. Ao sentir-se ‘cuidado’, o funcionário tende a alcançar melhores resultados.

Pensando nos colaboradores em geral, é importante atuar para que aprimorem suas habilidades de comunicação.  É preciso ser efetivo para que a comunicação seja realmente entendida e, dessa forma, assimilada, evitando estresse e problemas maiores.

Solange Waileman: Resultados são gerados por pessoas e pessoas são movidas por suas emoções. Não somente na área de Finanças, mas em qualquer âmbito pessoal ou profissional, a forma como você lida com suas emoções irá impactar sua efetividade e bem-estar.

A área de Finanças é extremamente desafiadora, já que seus Executivos precisam influenciar os tomadores de decisão a encontrar o equilíbrio entre a proteção do capital dos acionistas e a tomada de riscos para impulsionar o negócio.

Desenvolver habilidades de comunicação, relacionamento interpessoal, influência, empatia e motivação intrínseca são essenciais para a geração de resultados.