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Com o aumento dos debates a respeito de saúde mental, a expressão work-life balance – podendo ser definida como o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal – tem se tornado uma questão cada vez mais relevante e discutida dentro das empresas, uma vez que, a fim de estabelecer tal equilíbrio, são necessárias tanto ações das companhias, quanto atitudes individuais do profissional. Contudo, no que tange à área de Finanças, o alcance do work-life balance por parte de seus Executivos torna-se ainda mais desafiador, tendo em vista os prazos curtos e quase inegociáveis que a rotina financeira exige.

A área de Finanças, por sua natureza, possui uma visão holística da companhia e relaciona-se praticamente com todas as demais áreas (Vendas, Marketing, Operações, Legal, TI, RH, entre outras) de forma corriqueira. Elas acionam o departamento financeiro constantemente para que dê suporte às decisões mais estratégicas e relevantes a serem tomadas – desenvolvendo estudos de viabilidade, modelagens complexas e Business Plans –, auxilie na preparação de relatórios internos e externos com os principais indicadores de performance e conduza projetos de redução de custos, de reestruturação de processos e controles internos e de iniciativas para melhoria da rentabilidade. Essa alta demanda ocasionada pelas demais áreas, atrelada às rotinas de fechamento mensal, orçamento anual e forecasts periódicos – muitas vezes sem o auxílio de ferramentas de tecnologia -, dificultam a otimização de equilíbrio entre carreira e vida pessoal.

A fim de reverter essa situação e conseguir implementar o work-life balance no dia a dia do profissional da área, é necessário reconhecer que tal equilíbrio é um processo contínuo que requer não somente organização e reestruturação na agenda e no método de trabalho, mas principalmente disciplina, resiliência, e autoconhecimento por parte do Executivo financeiro, que precisa ter consciência de seu estado emocional para determinar as diretrizes e prioridades no trabalho e na vida pessoal. “Seja resiliente e bem-organizado na vida para conseguir ser feroz e original no trabalho”, como dizia Gustave Flaubert, escritor francês do século XIX.

Dentro desse contexto, após o esclarecimento das suas prioridades emocionais e de carreira, o profissional de Finanças deve procurar organizar sua rotina na empresa, bloqueando espaços na agenda para o planejamento da semana, negociando prazos, respeitando os horários de almoço – essenciais para o descanso mental – e, principalmente, estipulando limites e sabendo dizer “não” quando necessário. Com isso, será possível se dedicar mais às demandas e cumpri-las dentro do tempo estabelecido, gerenciando as próprias expectativas e as dos stakeholders. Também, é crucial reservar momentos para a realização de atividades físicas, estar junto à família e buscar, nos períodos de descanso e especialmente à noite, utilizar menos o celular, o que ajuda a diminuir a ansiedade e, consequentemente, a dormir melhor.

No entanto, se a organização na qual o Executivo de Finanças trabalha não for capaz de lhe oferecer o suporte necessário para atingir esse equilíbrio, o work-life balance continuará sendo de difícil alcance. Um ambiente corporativo exaustivo impulsiona o nível de estresse do Executivo mesmo quando ele não está trabalhando, podendo resultar em burnouts. Assim, é essencial que as empresas se preocupem com a saúde mental do profissional, de forma a criar canais de comunicação, investir em programas de bem-estar e promover modelos de trabalho mais flexíveis, que otimizem o tempo do colaborador e o estimulem no trabalho. Em adição a isso, uma peça fundamental para o plano de ação da companhia ser bem-sucedido é o líder de Finanças, que, por exercer um papel de protagonista na área, deve buscar constantemente um work-life balance sustentável em sua própria rotina a fim de estimular seus colaboradores a fazerem o mesmo.

Hábitos saudáveis e o estabelecimento de prioridades na carreira e vida pessoal, atrelados a investimentos por parte das empresas em criar ambientes de trabalho estimulantes e preocupados com o bem-estar do profissional, irão proporcionar benefícios tanto para os colaboradores, quanto para a organização. Nesse sentido, os Executivos financeiros irão apresentar melhor produtividade, menor absentismo e maior engajamento com os objetivos da companhia, culminando em análises mais profundas, números mais assertivos e mais iniciativas de inovação. Percebe-se, ainda, que companhias que incentivam o work-life balance costumam atrair os melhores profissionais de Finanças, tendo em vista o valor dado, hoje em dia, à flexibilidade e a uma rotina profissional menos estressante.

Dessa forma, a fim de compreender melhor como o Executivo de Finanças pode otimizar o seu work-life balance e qual é o seu papel no apoio às organizações na busca por esse equilíbrio, convidamos alguns profissionais com vasta experiência corporativa para compartilharem suas perspectivas e vivências em relação ao tema.

Com isso, a fim de entender esse tema em mais profundidade, convidamos três Executivos de Finanças para compartilharem suas visões e perspectivas.

Carolina Carioba

Chief People Officer | Nuvini

Gracio Matheus

Diretor Financeiro LATAM | Univar Solutions

José Roberto Beraldo

Conselheiro Independente

Quais são as principais iniciativas que uma organização pode e deve adotar para que seus funcionários atinjam um nível satisfatório de equilíbrio entre a vida pessoal e profissional?

Carolina Carioba: Antes de colocar iniciativas em prática nas empresas, a área de Pessoas deveria levar em conta os diversos perfis (personas) de colaboradores em uma empresa, pois cada um tem necessidades diferentes de acordo com o tempo de empresa, o tipo de atividade e o estilo de vida. Escutar o seu colaborador é fundamental para entender quais as principais queixas e necessidades que a empresa precisa resolver. Segundo uma pesquisa da OMS, 61% das empresas brasileiras já fizeram ou planejam fazer alterações em seu programa de benefícios como resultado da Covid-19. A prioridade das empresas tem sido melhorar os serviços de saúde mental, gestão do estresse e desenvolvimento de resiliência. Já é sabido que isso aumenta a produtividade e o engajamento dos colaboradores, reduz o absenteísmo e o turnover. Mas, por onde começar?

Plataformas de terapia online (ex. Vittude, Moodar, Zenklub) têm sido cada vez mais usadas nas empresas. Através de pesquisas e dados sobre o uso da plataforma, elas conseguem trazer um diagnóstico mais preciso sobre as áreas que estão com maior índice de estresse, facilitando a atuação mais precisa e eficiente da área de Pessoas. Além disso, algumas dessas plataformas também promovem rodas de conversa, painéis e palestras online com especialistas;

Promover sessões de meditação, yoga e alongamento ao vivo têm sido práticas frequentes nas empresas, pois criam uma rotina para os colaboradores se programarem e terem momentos de bem-estar ao longo da semana. Aplicativos como o Gympass, que precisaram se reinventar na pandemia, hoje oferecem aulas com personal trainers online, de meditação e de diversas modalidades, que estimulam os colaboradores a cuidarem da sua saúde de maneira prática e rápida, sem precisar sair de casa;

É muito importante repensar a necessidade de muitas reuniões e lives, repensar os processos que antes funcionavam no modelo tradicional, mas que, hoje, vem cansando as pessoas no home office após mais de um ano trabalhando no modelo remoto. Muitas empresas têm adotado a sexta-feira sem reuniões (Citigroup, Sanofi) a fim de disponibilizar mais tempo para os colaboradores se dedicarem a atividades que exigem mais concentração, ou, até mesmo, para aproveitar o tempo em família. Outras empresas criaram Clubes do Livro para promover uma troca que gere mais valor ao colaborador. O mais importante é escutá-lo, entender o que é mais relevante para ele naquele momento. Estamos todos com uma fadiga mental por conta de tantas reuniões por vídeo, por isso, antes de criar mais uma reunião ou live, reflita o quanto isso vai gerar de valor para o colaborador.

Gracio Matheus: Eu acredito que a liderança tenha um papel fundamental na busca desse equilíbrio, seja dando o exemplo do que se espera em termos de dedicação (aqui traduzida em tempo de trabalho), seja alinhando prioridades e evitando a sobrecarga do colaborador. Nesse sentido, cabe às organizações investir no desenvolvimento e valorizar líderes que sejam um modelo desse equilíbrio e que também saibam adequar os recursos disponíveis às demandas existentes para evitar essa sobrecarga.

Por outro lado, o autoconhecimento do colaborador precisa ser incentivado para o work-life balance funcionar: muitas vezes, acreditamos ser reféns de reuniões e demandas sem nos darmos conta do quanto podemos gerenciar o nosso tempo e a expectativa dos nossos stakeholders, além da nossa própria expectativa. Cursos de Gestão de Tempo e de Expectativas, por exemplo, são iniciativas bem efetivas quando oferecidas no momento correto da carreira, mas a verdade é que nem todos os profissionais têm a oportunidade de realizá-los e acabam carregando certos vícios ao longo da sua vida profissional que os impedem de alcançar esse equilíbrio.

José Roberto Beraldo: A primeira iniciativa é a conscientização de que o equilíbrio entre vida pessoal e profissional é essencial para qualidade de vida do colaborador, com enormes benefícios tangíveis e intangíveis para as organizações. Essa conscientização é importante, pois ainda é muito comum encontrar pessoas e empresas que acham positivo e falam até com orgulho, por exemplo, que dormem 4 ou 5 horas por noite ou que trabalham 15-16 horas todos os dias, o que é uma clara demonstração de falta de conhecimento do funcionamento do próprio organismo humano e dos impactos negativos desses hábitos.

Após essa fase de conscientização, próximo passo seria avaliar internamente, através de pesquisa, como está o nível de bem-estar dos colaboradores. Essa pesquisa seria um instrumento poderoso para que colaborador e organização definissem um plano de ação detalhado para a melhoria do bem-estar do profissional.

De maneira geral, qual é o nível de maturidade que você acredita que as empresas possuem sobre este tema?

Carolina Carioba: 79% das empresas nunca fizeram um diagnóstico de saúde mental e desconhecem a real situação de seus colaboradores (Mercer, 2019). Apesar de quase todas as empresas terem se adaptado ao tema rapidamente com a pandemia do Covid-19, a maturidade ainda depende muito da indústria. Empresas de tecnologia que empregam mais pessoas da geração Z – um público muito exigente em relação à autonomia de escolhas sobre equilíbrio entre vida pessoal e profissional no trabalho, além de uma alta competitividade por seus desenvolvedores, já estão em um nível de maturidade maior para o tema, com programas mais estruturados e muitas iniciativas já funcionando. No entanto, uma pesquisa de 2020 da OMS mostra que, no Brasil, apenas 18% das empresas têm práticas que endereçam o tema de saúde mental ou tem programas corporativos. Indústrias mais tradicionais, como grandes bancos, escritórios de advocacia, entre outros, ainda não estão maduras nesse tema. Muitas delas já voltaram à rotina nos escritórios, sem programas para apoiar os colaboradores.

Gracio Matheus: O nível de maturidade depende de muitos aspectos, mas acredito que o momento em que a empresa se encontra seja relevante para definir esse nível. Para uma companhia que está recém começando, ou em um projeto de expansão acelerada, o work-life balance dos seus colaboradores pode não ser uma prioridade, enquanto para uma organização já estabelecida, buscar esse equilíbrio pode ser uma questão de continuidade do negócio. Eu acredito que a maioria das empresas reconhece a importância do tema, mas sem conseguir estabelecer ações concretas para abordá-lo, por isso, acabam não saindo do discurso. De qualquer forma, a generalização do home office a partir do ano passado, assim como o aumento das opções de conectividade do colaborador, trouxeram de volta esse debate, levando as empresas a buscar formas mais efetivas de solução.

José Roberto Beraldo: Quando falamos em busca pelo equilíbrio entre vida pessoal e profissional, estamos falando de maneira mais abrangente sobre a busca pelo bem-estar dos colaboradores. Nesse sentido, entendo que a preocupação das empresas está aumentando nos últimos anos. Porém, ainda vejo baixo nível de eficiência nos programas sendo implementados. Pesquisa feita pela Mercer Marsch com 611 companhias, por exemplo, mostra que 46% das empresas pesquisadas têm alguma iniciativa focada no bem-estar dos empregados. Contudo, a maioria das ações são reativas, e não preventivas, sendo estas as que sempre geram os melhores resultados e são mais voltadas ao indivíduo. Assim, certamente, existe muito espaço para melhoria dentro das organizações.

Considerando o work-life balance como sendo um exercício diário, que práticas o Executivo de Finanças pode adotar na sua rotina para buscar manter um equilíbrio mais saudável entre vida pessoal e profissional?

Carolina Carioba:  É muito importante saber priorizar, e isso significa dedicar tempo para fazer atividades que gerem bem-estar e saúde. Bloqueie horários na agenda para o almoço (sim, é de extrema importância uma pausa para uma refeição bem-feita, para uma conversa com amigos ou família, ou simplesmente para focar no ato de comer em si) e para a atividade física, além de programar paradas no meio do dia para respirar e/ou meditar.

Também, coloque na agenda um limite de horário para começar ou terminar o horário de trabalho. Não é porque você está em home office que o trabalho precisa ocupar todos os espaços livres da sua agenda, ou que você tenha que estar disponível na maior parte do tempo. Criar os seus limites é algo muito importante se você busca mais equilíbrio entre vida pessoal e profissional.

Hoje em dia, existem dezenas de aplicativos de treinos online ao vivo ou sob demanda pelo celular. 30 minutos de atividade física (que pode ser, inclusive, um passeio com o cachorro) já são o suficiente para diminuir o estresse e a ansiedade e reduzir o peso.

Ademais, pratique meditação ou técnicas de mindfulness para treinar a concentração. Diversos estudos já comprovam os benefícios da meditação para reduzir o estresse e a ansiedade, aumentar a concentração e melhorar o sono. A meditação nos permite observar nossos sentimentos e pensamentos sem julgá-los, diminui a impulsividade e a irritabilidade. Experimente fazer pequenas pausas de 1 minuto ao longo do dia para respirar – é incrível a diferença que faz, principalmente para acalmar a mente. Sobre mindfullness, que pode ser traduzido como atenção plena, aprenda a fazer uma coisa de cada vez, a começar uma atividade e ir até o fim, aproveitar uma conversa com um amigo, prestar atenção no que está fazendo naquele momento. Isso vai trazer mais bem-estar e uma sensação de realização muito maior do que tentar realizar várias tarefas ao mesmo tempo. Esses momentos mais presentes fazendo o que você gosta são extremamente energizantes.

Gracio Matheus: Para mim, o primeiro grande passo na busca desse equilíbrio passa por você assumir o controle do seu tempo. Isso significa aprender a negociar prazos, priorizar, bloquear espaços para atividades rotineiras (atualização de e-mails, atividades mais operacionais), entre outros.

O segundo, passa pelo gerenciamento de expectativas, não só a dos nossos stakeholders, mas também a nossa. Muitas vezes, precisamos entender que um determinado momento da nossa carreira (um projeto, por exemplo) demanda uma dedicação maior de tempo, porém o importante é não perder a perspectiva de que isso deve ter um fim.

Por último, vale se questionar também se um determinado processo está sendo executado de uma forma eficiente. Como exemplo, quem se acostumou a aceitar a rotina de longas horas de trabalho durante os fechamentos contábeis, deveria buscar alternativas que ajudem a quebrar esse paradigma (automatização, otimização de processos, benchmarking com outras empresas/unidades).

José Roberto Beraldo: Após ter sofrido uma isquemia no final de 2017, e sua causa ter sido diagnosticada por estresse crônico, resolvi estudar o que havia acontecido comigo e quais ações eu poderia e deveria tomar para aquilo não voltar a acontecer. No final, depois de muita pesquisa junto a muitos e importantes profissionais e organizações, acabei chegando a uma lista de seis fatores a que deveria prestar atenção para aumentar minha resiliência ao estresse do dia a dia. Essa lista é um consenso entre os profissionais da saúde e seus itens são: 1) ter boa qualidade de sono, 2) boa alimentação, 3) fazer atividade física, 4) buscar manter relacionamentos sociais constantes e positivos, 5) tentar ver sempre as coisas sob uma perspectiva positiva, 6) buscar ter mais atenção plena, ou seja, habilidade de focar mais nas tarefas que estou fazendo naquele momento.

Desde que cheguei a essa lista, procuro seguir suas recomendações, porém, é um processo evolutivo e contínuo, e não é fácil, pois requer muitas mudanças de hábitos, mas certamente vale a pena.

Como o Executivo de Finanças pode contribuir para que a questão do work-life balance seja levada a sério por todos os líderes das demais áreas da organização?

Carolina Carioba: O exemplo sempre vem do líder, então se você é um líder de Finanças na sua empresa, apoie iniciativas que visam o bem-estar dos colaboradores, como as diversas já citadas aqui. Aprovar uma linha no orçamento para programas de bem-estar e saúde mental é o principal passo para ajudar a disseminar a importância entre os Executivos nas empresas.

Além disso, evite marcar reuniões de trabalho no horário do almoço ou em horários alternativos (após as 19h ou muito cedo, antes das 8h). Pergunte para a pessoa se há algum problema em abrir uma exceção, quando for o caso;

Por último, dê o exemplo internamente para o time e para as demais áreas, seja participando de algumas atividades que a empresa promove para saúde mental e bem-estar, seja colocando limites na sua agenda e criando tempo para você poder priorizar atividades que promovam o seu bem-estar mental e físico.

Gracio Matheus: Como as atividades de uma empresa acabam se refletindo nos números dela, acredito que o caminho mais óbvio seja trazer à tona o impacto financeiro resultante da falta desse equilíbrio, que pode ser identificada através de horas extras, de ineficiência ou retrabalho, rotatividade elevada de colaboradores etc. Ou seja, Finanças tem condições de apresentar aos líderes das demais áreas resultados que indiquem que o equilíbrio entre a vida pessoal e a profissional pode não ser sustentável para a organização. Ao participar ativamente da agenda de sustentabilidade da organização, seja diretamente em fóruns de ESG ou liderando um processo de gestão de riscos (ERM), por exemplo, o Executivo financeiro também tem a oportunidade de reforçar a importância do assunto nesses contextos.

José Roberto Beraldo: O Executivo de Finanças deve ter um papel fundamental na conscientização do problema, mas antes de qualquer coisa, deve buscar entender todos os importantes impactos financeiros de uma falta de equilíbrio entre vida e trabalho. Conhecendo os impactos, deverá o financeiro avaliar e quantificar os benefícios das ações tomadas para melhorar o bem-estar dos colaboradores, pois estou certo de que o retorno alcançado pelos investimentos nessa área é bem relevante. Quantificar o ganho de produtividade será muito importante para consolidar as conquistas e avaliar as ações que geram melhores resultados. Importante deixar claro que a avaliação desses programas de bem-estar deve ser feita de maneira contínua, pois seus impactos não são observados no curto prazo. Claro, também, está que o profissional de Finanças deve avaliar sua rotina para que seus colaboradores tenham um work-life saudável sem impactar sua entrega, ou melhor, que aumente sua produtividade.

Como um work-life balance pouco saudável pode impactar as rotinas da área de Finanças e os indicadores financeiros de uma empresa?

Carolina Carioba: Segundo um relatório mais recente publicado pela London School of Economics em 2019, R$207 bilhões é o valor perdido pelas empresas por não tratarem os casos de ansiedade e depressão.

A OMS confirma que doenças mentais se tornaram a principal causa de afastamento do trabalho;

72% dos trabalhadores ativos sofrem com sintomas do estresse (ISMA);

32% destes apresentam sinais evidentes de burnout;

38% das licenças foram oriundas de doenças psíquicas (INSS).

Para cada 1 dólar investido na saúde mental dos colaboradores, 4 dólares retornam para a organização em produtividade e capacidade de trabalho (OMS). Como podemos ver, a falta de equilíbrio entre a vida pessoal e profissional gera diversos transtornos para a área de Finanças, aumentando o custo e impactando diretamente os indicadores financeiros de uma empresa. Investir em ações e programas que visem o bem-estar mental e físico dos colaboradores amplia a vantagem competitiva, aumenta a produtividade e o engajamento, e traz um saving de até 4x.

Não ignore os dados e fatos, escute mais os seus colaboradores, invista em programas de benefícios que focam no bem-estar mental e físico, pois pessoas mais felizes e saudáveis definitivamente geram mais resultados financeiros para as empresas, além de criar um ambiente de trabalho e uma cultura mais positiva, gerando mais inovação e comprometimento.

Gracio Matheus: No curto prazo, um work-life balance pouco saudável aumenta a possibilidade de erros, sejam eles processuais ou até mesmo analíticos, que podem levar a uma tomada de decisão equivocada, por exemplo. Além disso, pode ter consequências diretas na saúde mental e física dos colaboradores, tornando insustentável o funcionamento da área. Mas, olhando de uma perspectiva de longo prazo, a incapacidade ou impossibilidade de se desconectar do trabalho acaba prejudicando o nosso próprio desenvolvimento profissional, à medida que nos impede de descansar e renovar o pensamento, o que eu considero fundamental para o desenvolvimento de ideias e da criatividade. Nesse sentido, a dedicação à nossa vida pessoal passa a ser uma condição necessária para possibilitar o nosso próprio crescimento profissional.

José Roberto Beraldo: Work-life balance pouco saudável é um dos grandes responsáveis pelo estresse crônico, algo com impacto enorme na saúde do nosso corpo e do cérebro (gosto de falar cérebro ao invés de saúde mental), sendo um dos grandes desafios do atual século. O estresse crônico e seu mecanismo fisiológico enfraquece nosso sistema imunológico, aumenta nível de açúcar no sangue e o risco de diabetes do tipo 2, terceira doença que mais mata no Brasil, além de reduzir o diâmetro das veias sanguíneas, podendo aumentar pressão arterial, causa importantíssima de outras doenças graves.

Ademais, o estresse crônico é um dos principais responsáveis pelo Brasil ter uma das maiores taxas de depressão (5,8%) e ansiedade (9,3%) do mundo, é a principal causa do burnout, doença ocupacional a partir de janeiro de 2022 que ataca 30% da população brasileira, e uma das principais causas de perda de produtividade nas empresas, aumentando em até 50% o custo do sistema de saúde privada e pública.

Finalmente, para mim, o estresse crônico é uma das consequências mais nocivas para empresas e Executivos, pois afeta fortemente nossa capacidade de tomar decisões, desenvolver pensamento crítico e trabalhar em grupo de maneira colaborativa, afetando, também, nossa criatividade e todas as habilidades intangíveis (soft skills) importantes para um profissional. Como podemos ver, os efeitos negativos são importantíssimos e até maiores que os exemplos listados acima.