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Uma mudança de emprego é uma decisão extremamente relevante para a carreira e vida de qualquer profissional de Finanças. Para que essa mudança seja bem-sucedida, especialmente durante o processo seletivo, o Executivo deve realizar uma profunda reflexão sobre o seu futuro e todos os aspectos que o cercam, analisando como uma possível movimentação poderá impactar seus planos e sua trajetória.

Os principais aspectos que devem ser avaliados minuciosamente dizem respeito a tudo que engloba a vaga em si. As atribuições da posição devem estar alinhadas à experiência prévia e aos conhecimentos técnicos já desenvolvidos – até mesmo para que a transição seja mais segura -, mas também precisam oferecer desafios que podem agregar valor à trajetória profissional, incluindo a participação efetiva em projetos ad hoc desvinculados das rotinas diárias normais, como iniciativas transformacionais, construtivas ou de crescimento inorgânico. A posição também deve possibilitar um bom nível de exposição interna, tanto em relação a outras áreas da companhia, quanto aos diversos níveis hierárquicos, e a área de Finanças, como um todo, deve possuir um papel relevante dentro da organização e ter voz ativa, ou seja, suas recomendações precisam ser deveras consideradas durante o processo de tomada de decisão do negócio. Ademais, é importante analisar as pessoas com quem irá trabalhar, não somente o estilo de liderança do gestor direto – que deve dar autonomia, delegar as atividades, colaborar, se posicionar quando necessário e possuir uma boa relação com seu time – e dos principais stakeholders com os quais irá interagir, mas também os perfis dos pares e dos membros da equipe abaixo. A nova empresa, por sua vez, também necessita de uma análise especial com o intuito de avaliar as reais perspectivas de ascensão profissional e o risco de a organização passar por um processo de venda, fusão ou descontinuidade de seus negócios. Além do momento pelo qual a companhia está passando, a situação do setor da economia em que está inserida e as informações financeiras sobre ela disponíveis ao mercado, é pertinente compreender mais a fundo os principais aspectos da sua cultura organizacional, tais como a ética, o propósito, os valores e a flexibilidade, e se há identificação com eles. No que diz respeito à trajetória profissional, o Executivo de Finanças necessita ponderar se o que a posição oferece está em linha com o seu plano de carreira em longo prazo, considerando o aprendizado técnico, a relevância dos projetos que conduzirá e as habilidades comportamentais que serão desenvolvidas.

Pela ótica pessoal, outra questão de extrema relevância a ser avaliada é o momento de vida. Uma transição de emprego para outra companhia é um período que normalmente demanda mais tempo e dedicação do profissional, haja vista os possíveis desafios de adaptação ao novo trabalho. Dessa forma, o Executivo necessita refletir se as circunstâncias pessoais possibilitam um dispêndio maior de tempo nessa fase. Outrossim, é importante refletir sobre a situação financeira e analisar se a remuneração proposta atende as suas expectativas, compensa o risco da mudança e está de acordo com os desafios do projeto.

Para que a avaliação sobre a mudança de emprego seja consistente e considere pontos que se aproximem ao máximo da realidade, existem algumas ferramentas que podem ser muito úteis. Uma das principais é a Internet, pela qual o Executivo em transição pode realizar uma vasta pesquisa sobre o setor e a companhia através de sites de busca, do próprio site da empresa ou de outras páginas em que é possível avaliar a reputação de organizações através de relatos anônimos de funcionários e ex-colaboradores. Outra opção interessante é o próprio networking do Executivo, em que profissionais que tenham trabalhado ou estejam trabalhando na companhia de interesse podem dar referências sobre ela ou, até mesmo, sobre o gestor direto. Por último, durante todo o processo seletivo, deve-se questionar não apenas os recrutadores da empresa sobre qualquer dúvida que surgir a respeito da vaga, do gestor, da equipe e da organização, de modo que não fique nenhum tópico pendente, mas também o headhunter que está liderando o projeto, uma vez que, por possuir um amplo conhecimento sobre o perfil profissional mais demandado por companhias de diversos segmentos, nacionalidades, portes e estruturas acionárias, pode analisar se a mudança, de fato, faz sentido ou não para a carreira do Executivo.

Com isso, a fim de compreender melhor os aspectos que devem ser ponderados ao longo de um processo seletivo para que a decisão de mudar de companhia seja tomada da forma mais consciente possível, convidamos três Executivos de Finanças para compartilharem suas perspectivas e experiências em relação ao tema.

Ana Paula Romantini

CFO e IR | Santo Antônio Energia

Eduardo Ducatti

VP de Finanças | Ball Corporation

Vinícius Oliveira

Diretor Financeiro | Profarma Specialty

Sob o ponto de vista do escopo da vaga e do desafio em si, quais são os principais aspectos que devem ser avaliados durante um processo seletivo na área de Finanças para se certificar de que a mudança de emprego valha a pena?

Ana Paula Romantini: Primeiramente, quando você decidir mudar de emprego, avalie se você quer deixar sua empresa a qualquer custo ou se a mudança de emprego tem relação com o seu plano de longo prazo de carreira. Essa reflexão é muito importante, pois, muitas vezes, na ânsia de deixar a atual companhia, o candidato não faz a avaliação da sua próxima empresa e do desafio de forma cuidadosa e acaba fazendo o movimento errado que compromete seu objetivo profissional de longo prazo.

Os principais aspectos que devem ser avaliados na sua nova posição é se ela agregará a você, como profissional, uma experiência de crescimento e desafios condizentes com seu plano profissional futuro, além, claro, de uma remuneração e benefícios adequados a sua nova posição. Importante ressaltar que o retorno financeiro nunca deve ser olhado de forma isolada e, sim, o que essa nova posição/desafio agregará a sua trajetória profissional e como contribuirá para seu plano futuro de carreira.

Eduardo Ducatti: Sob o ponto de vista do escopo da vaga e do desafio, é importante o candidato observar se tem o conhecimento técnico e as características necessárias para ter uma alta performance. Conhecimento técnico é muito importante, pois, com ele, o candidato poderá trazer pontos de vista e análises com que a empresa não está acostumada e, assim, ajudar a encontrar oportunidades e soluções para problemas.

Outro ponto importante é avaliar suas características pessoais e de liderança mais marcantes e entender como elas se encaixam no perfil desejado pela companhia.

Vinícius Oliveira: Os principais aspectos que devem ser avaliados durante um processo seletivo na área de Finanças, sob o ponto de vista do escopo da vaga e do desafio em si, são: identificar se a vaga proporciona algum desenvolvimento específico, se ela oferece autonomia para tomada de decisões, se possui oportunidade atual ou futura de experiência com as diferentes disciplinas de Finanças e a interação multifuncional com as demais áreas da empresa.

E quais pontos precisam ser analisados em relação à futura empresa?

Ana Paula Romantini: Os principais aspectos que devem ser considerados na avaliação da sua futura empresa são:  o segmento/setor de atuação da empresa, o tipo de companhia (companhia aberta, fechada, familiar), se a empresa investe no seu capital humano, possui ambiente saudável, cultura organizacional autêntica, sustentável e pautada na diversidade e no respeito aos seus colaboradores, mas, principalmente, se os valores e a cultura da sua futura empregadora estão alinhados com seus valores.

Antes de tomar a decisão de migrar de companhia, pesquise e converse muito a fim de saber se a nova empresa possui um alinhamento com seus valores, pois essa é a principal chave de sucesso. Ter orgulho de pertencer a uma empresa que você admira e na qual confia e acredita é essencial.

Eduardo Ducatti: Quanto à futura empresa, é importante que o candidato avalie o tamanho dela, pois, em companhias de menor porte, o candidato consegue abranger mais atividades e ampliar seu escopo de atuação, enquanto em uma empresa de grande porte, irá trabalhar com itens mais complexos e mais aprofundados para uma tomada de decisão. A cultura e os valores são muito importantes, uma vez que o candidato vai dedicar 8 horas por dia em um ambiente onde tem que se sentir à vontade para navegar. Por exemplo, se você é um candidato que gosta de dar ideias e de participar nos comitês das empresas, dificilmente irá se encaixar em uma companhia com uma cultura rígida.

Além disso, avalie o momento da empresa e suas estratégias de curto, médio e longo prazo, pois esse ponto é relevante para o candidato entender qual o futuro da empresa e como o plano de carreira dele se encaixa a ele, para que haja um longo e feliz casamento.

Vinícius Oliveira: Existem questões básicas, porém muito importantes que precisam ser analisadas em relação à futura empresa: questões culturais, momento da empresa, ambiente de trabalho e possibilidade de crescimento. Importante também analisar mercado e segmento de atuação da companhia, buscando entender se faz sentido em relação a sua experiência passada ou seus objetivos futuros. Adicionalmente, precisamos analisar se a empresa efetua todas suas atividades dentro de padrões adequados de conformidade e controle.

Quais são as principais formas e ferramentas possíveis para se fazer uma análise completa e robusta? Como o headhunter (ou recrutador) pode e deve contribuir?

Ana Paula Romantini: A minha recomendação é que você faça uma extensa pesquisa sobre a empresa, utilizando diversas fontes, como o site da companhia, matérias sobre ela na Internet, Relatórios Financeiros da empresa, LinkedIn, colaboradores e ex-colaboradores, que, de alguma forma, tenham interação com a companhia (clientes e fornecedores). Pesquise e converse muito com pessoas!

Outra fonte importante de informações sobre a empresa é o headhunter, seja aquele que está trabalhando na posição ofertada, ou headhunters de mercado. Normalmente, esses profissionais têm profundo conhecimento sobre as companhias, como vocação, cultura e valores, e conhecem profundamente o C-Level das empresas no que diz respeito ao perfil de liderança e características de gestão.  Aproveite e explore bastante esse conhecimento amplo que os headhunters possuem.

Eduardo Ducatti: Para se fazer uma análise completa e robusta, minha sugestão seria o candidato, primeiramente, pesquisar nos sites da empresa seus últimos reports financeiros e para investidores, em que pode encontrar muito do momento financeiro da empresa e quais as suas estratégias para o futuro. Minha segunda sugestão seria procurar nas suas redes sociais pessoas que trabalham ou trabalharam na empresa de interesse para entender o ambiente de trabalho, o momento da companhia e as oportunidades que ela pode oferecer. Aqui, o headhunter também tem um peso importante, uma vez que ele costuma conhecer todo o ambiente da companhia e os principais profissionais líderes de cada função, com isso, esse profissional pode dar boas dicas e insights.

Vinícius Oliveira: As entrevistas com o headhunter (ou recrutador) e com os stakeholders internos são fontes importantes de informações sobre a empresa. Devemos nos preparar, formulando perguntas que nos ajudarão a complementar nossa análise sobre o possível movimento profissional. Nosso networking é também muito importante neste momento. Devemos buscar algum colaborador da empresa ou mesmo alguém que conheça a companhia para nos ajudar a compor nossa análise. Importante também mencionar que devemos utilizar as informações públicas da empresa disponíveis na Internet.

Em relação às questões pessoais, quais fatores devem ser considerados e ponderados para que a mudança seja segura e tranquila?

Ana Paula Romantini: Toda mudança de emprego traz certa insegurança. Para que essa mudança seja segura e tranquila, tome suas decisões pautado no seu plano de carreira futuro, conheça bem a sua nova empresa, avalie bem se os novos desafios estão condizentes com sua remuneração e benefícios e se aspectos como ambiente de trabalho, localização da empresa e liderança atendem suas necessidades e expectativas.

Eduardo Ducatti: Acredito que, uma vez que o candidato tenha feito as pesquisas sobre a companhia, conversado com pessoas que trabalham ou trabalharam nela e com headhunters que conhecem o ambiente da empresa, isso dá uma boa segurança para a tomada de decisão. Porém, é importante colocar na sua lista de tomada de decisão questões pessoais, como viagens, mudanças e, agora, tempo em home office, pois estas e outras questões certamente completarão a sua decisão de mudança de emprego.

Vinícius Oliveira: Toda mudança incita risco, por isso, é importante que ao longo da carreira nos preparemos financeiramente para momentos como este. Esse preparo é importante para tomarmos decisões, como uma mudança de emprego, pois nos assegura um período de fôlego financeiro para buscarmos nosso desenvolvimento com tranquilidade.