Empresas contratantes
Momento do mercado: Diante das incertezas do contexto macroeconômico do país, geradas principalmente por inseguranças em relação à política fiscal, à desvalorização da moeda e ao cenário de juros elevados, as empresas, tanto estrangeiras quanto brasileiras, passaram a avaliar as decisões de contratação com mais cautela no final de 2024 e início de 2025. Além desse fator, nota-se que aspectos como período de férias e feriados, bem como a espera pela aprovação de orçamentos, a divulgação de balanços auditados e o pagamento de bônus, refletem um movimento mais lento nas admissões entre os meses de novembro e fevereiro.
Setores em alta: A partir de março, espera-se uma retomada mais expressiva do mercado, impulsionada pela necessidade de suprir uma demanda acumulada. Esse movimento deve ampliar as oportunidades de contratação, sobretudo nos setores que já possuem um histórico de movimentação dinâmico, como bens de consumo, serviços e agronegócio. Além disso, observa-se um aumento na demanda por Executivos Financeiros nos setores de real estate e construção civil, bem como um crescimento significativo no setor de energia, especialmente no segmento de gás natural, que, impactado pelo desinvestimento da Petrobras, tem atraído as operações de empresas estrangeiras para o Brasil, com foco maior no Rio de Janeiro.
Modelo de trabalho: No que diz respeito ao modelo de trabalho, a tendência é que as companhias, em especial as brasileiras, sigam com o formato híbrido-presencial, demandando uma frequência no escritório de 3 a 4 dias por semana. A aderência a esses regimes, no entanto, pode variar conforme a senioridade do candidato. Profissionais que exercem posições de liderança tendem a estar no escritório de 4 a 5 vezes por semana, uma vez que a presença física no ambiente de trabalho possibilita maior proximidade e uma comunicação mais dinâmica com a equipe, o que impacta positivamente nas tomadas de decisão do time. Contudo, a flexibilidade continuará sendo um fator importante para atrair e reter os talentos e, portanto, deve ser considerada de maneira estratégica pelas organizações.
Profissionais contratados
Competências em destaque: Quanto às habilidades técnicas dos profissionais contratados, destaca-se a experiência em projetos de transformação tecnológica, como a implementação de ferramentas de BI e RPAs, além da participação em projetos ad hoc, como a preparação da companhia para um possível IPO e a estruturação (ou reestruturação) de um Centro de Serviços Compartilhados (CSC). Essas experiências moldam líderes capazes de romper com a dinâmica habitual da área financeira e de transitar entre diferentes áreas do negócio, permitindo a construção de um escopo mais amplo e o desenvolvimento de competências como flexibilidade, análise estratégica e resolução de problemas.
Segundo idioma: Ainda em relação aos requisitos técnicos, candidatos com nível fluente ou avançado na língua inglesa seguem sendo muito valorizados nos processos seletivos, tanto por empresas estrangeiras quanto por empresas brasileiras. Mesmo sem atuar diretamente fora do país, as companhias nacionais tendem a optar por profissionais que estejam aptos a avaliarem as oportunidades de expansão no mercado internacional e conduzir negociações offshore.
Soft skills: É importante destacar também que, no momento da contratação, os objetivos das organizações não se limitam a formar equipes de Finanças que sejam apenas as “guardiãs dos números”, restritas a bagagens puramente técnicas. Por isso, o alinhamento do perfil comportamental às necessidades da posição e à cultura organizacional tem sido um dos principais critérios na seleção de líderes financeiros, assim como na decisão por suas eventuais demissões. Nesse sentido, competências como visão de negócio, comunicação estruturada, capacidade de influência e de construção de alianças, bem como a habilidade de transitar com eficácia entre diferentes níveis hierárquicos, deverão ser os requisitos comportamentais mais demandados de profissionais que prospectam posições financeiras estratégicas e de alto impacto na tomada de decisão.
Motivadores de carreira: Em relação aos motivos de atração e retenção, a tendência é que oportunidades de assumir novos desafios, perspectivas claras de crescimento de cargo, cultura flexível e liderança de equipes continuem sendo os principais motivadores de carreira para os Executivos de Finanças. Além disso, escopos de função mais generalistas, que abrangem diferentes disciplinas financeiras, e a possibilidade real de impactar e influenciar a estratégia corporativa também tendem a ser fatores de grande força atrativa.
Processo seletivo
Aumento de etapas: Nos últimos meses, devido à postura mais cautelosa das empresas, observou-se que os processos seletivos contaram com um número maior de etapas, garantindo que as contratações fossem mais alinhadas às expectativas de senioridade e orçamento relacionado à remuneração da posição. Considerando esse cenário, no primeiro trimestre deste ano, espera-se que as companhias não priorizem os processos motivados pela abertura de posições que anteriormente não existiam e, que, de modo geral, indicam a expansão da operação.
Substituições em foco: Ao longo do semestre, a expectativa é que o foco maior de empresas estrangeiras e brasileiras sejam as admissões geradas por substituições. Essas movimentações podem ser motivadas por saídas voluntárias dos profissionais que ocupam a posição ou por demissões causadas por baixa performance ou desalinhamento no perfil comportamental, refletindo uma disposição maior das organizações em fortalecer os times de Finanças e priorizar sua eficiência e desempenho.
Disciplinas mais demandadas: Em relação às disciplinas que mais tendem a contratar, Contabilidade, Tesouraria e Planejamento Financeiro devem manter um alto volume de admissões, impulsionadas pela demanda contínua por candidatos com expertise nessas áreas devido à relevância e complexidade crescente dos processos internos de tais disciplinas. Por outro lado, espera-se que as disciplinas de Impostos e Planejamento Tributário enfrentem processos de contratação mais morosos nos próximos meses devido às instabilidades geradas pela implementação da Reforma Tributária, cujos impactos ainda estão em definição no país. Ao mesmo tempo, profissionais especialistas na disciplina de Planejamento Estratégico estão em um viés de alta em decorrência da necessidade de uma visão de longo prazo da estratégia da companhia e da oportunidade de desenvolvimento de novos negócios, especialmente nos setores de commodities (como mineração e agronegócio) e de energia.
Diversidade em pauta: Por fim, a pauta de Diversidade e Inclusão em todos os seus aspectos segue com grande relevância entre as exigências dos processos seletivos, e a tendência é que as companhias busquem cada vez mais profissionais que contribuam ativamente para a construção de equipes mais plurais e representativas, refletindo um compromisso crescente com a equidade.
Remuneração
Diferencial nos ganhos variáveis: Devido ao momento de cautela econômica, em que as empresas devem focar na otimização de processos e na contenção de custos no primeiro trimestre, a tendência é que o incremento da remuneração fixa em uma movimentação profissional diminua um pouco, variando entre 10% e 15% de aumento, e que as companhias invistam na oferta dos ganhos variáveis, como benefícios e incentivos de curto e de longo prazos (hiring bonus, retention bonus ou stock options).
Negociações flexíveis: Em um contexto em que aspectos relacionados à cultura organizacional e à perspectiva de crescimento impactam cada vez mais as decisões de movimentação de carreira, os candidatos às posições de gerência sênior e diretoria executiva, por exemplo, tendem a avaliar o pacote remuneratório com mais flexibilidade, tendo em perspectiva os rendimentos robustos gerados pelos incentivos no longo prazo.