Career Insights

  • “… cuide de suas emoções; … use seus talentos; e … viva seu propósito!”
  • Martin E. P. Seligman, Ph.D

 

Há poucas semanas, recebi duas perguntas de um mentorado que eram muito simples, mas que nos levaram a uma reflexão muito profunda. A primeira questão foi “como havia sido o início da minha carreira” e a segunda, “quais as alavancas que, de fato, fizeram a diferença”. Para quem não acredita na geração dos millennials, estamos falando aqui de um mentorado jovem, de menos de trinta anos de idade, interessado em saber com profundidade como ele pode fazer a diferença, como pode aprender. Um jovem que já aceitou uma posição e salário inferior ao que tinha, pois via possibilidade de crescimento e aquisição de conhecimentos que poderiam levá-lo à sua visão de longo prazo. Enfim, alguém que não é imediatista e nem raso. Pelo contrário, uma pessoa profunda, paciente, mas também ambiciosa e que pensa longe.

Ele queria, e foi, além do meu curriculum, além do que está no LinkedIn. Ele gostaria de entender as competências, as histórias e saber como cada tijolinho foi colocado no lugar. Nesta hora, meu script da seção ficou de lado, as fronteiras entre mentor e mentorado ruíram e descemos várias camadas abaixo daquilo que as pessoas veem. Nunca me senti tão mentor como nesse dia!

Até há pouco tempo, falávamos em hard skills, nossas habilidades e conhecimentos técnicos como algo fundamental para o sucesso. E continuam sendo. Falávamos também nos soft skills, referência às habilidades comportamentais que eram complementares e de importância crescente.

Hoje, os hard skills, que continuam fundamentais, viraram parte de uma plataforma comum aos profissionais de Finanças, algo que todos possuem. Aqueles que não possuem nem estão entre nós, simples assim. É como em uma competição, em que determinadas equipes ou atletas ficam na fase de qualificação e nem se apresentam na largada ou no início da competição.

Por outro lado, tenho ouvido de várias maneiras a frase: “parem de dizer soft skills, pois eles agora são essential skills”. Não é só uma questão retórica ou de semântica, mas existe uma mudança de consciência e entendimento importante aqui. Os essentials skills são os novos ler e escrever no mundo corporativo, em especial em Finanças.

Parem para pensar: quantas vezes vocês viram bons profissionais empacarem suas carreiras em níveis gerenciais médios e simplesmente não conseguiam evoluir para o próximo nível? Ou, não conseguiam demonstrar para suas organizações que eram capazes de fazer esse movimento! Se analisarem bem, irão concluir que, em sua maior parte, o que lhes faltavam eram traços comportamentais, não técnicos. Ou seja, fazendo uma analogia com o mundo da aviação, é como se a “térmica” técnica, o “o que” nos elevasse até uma certa altitude, mas, para ir além dela, precisamos de entrar em outra “térmica”, a do comportamento, a do “como”.

Em minhas andanças recentes, tive a oportunidade de ver esse assunto sendo discutido em fórum de alto nível, mas com um senso de urgência diferenciado. É uma discussão que não é nova, porém a ênfase e a “chamada para ação” me pareceu outra. É como se as pessoas estivessem finalmente entendendo e internalizando a real necessidade de mudança do nível de consciência.

Dependendo da fonte, veremos descrições de essential skills diferentes, e elas precisam ser compatíveis com a cultura de cada organização. No entanto, pela isenção e credibilidade, faço referência à publicação “The Future of Jobs 2020”, do Fórum Econômico Mundial, disponível no site da instituição. Há uma lista com as 15 habilidades mais relevantes para 2025, todas maravilhosas. Somente para nosso foco, priorizo 3 para nossa discussão, que ressonam muito fortemente com o que eu penso ser fundamental em nosso mundo atual:

  • • Inteligência emocional: algo que falamos há tanto tempo, mas a aplicação no dia a dia de maneira verdadeira continua tão negligenciada:
  1. Preocupação com os outros: ser sensível às necessidades e sentimentos das pessoas ao nosso redor e ser compreensivo e disposto a ajudar;
  2. Cooperação: Ser agradável com as pessoas e demonstrar atitude cooperativa e simpática;
  3. Orientação social: preferir trabalhar com outros ao invés de sozinho e ser capaz de conectar-se com outros no trabalho;
  4. Percepção social: Estar atento a reações das pessoas e entender como reagem às situações.

Ou seja, é empatia pura, em todas as suas formas: ser capaz de colocar-se na posição do outro(a), sentir o que ele(a) sente, entender como reage e, principalmente, ter disposição genuína para ajudar. Isso é amar as pessoas e querer o bem delas, seja seus líderes, seus pares ou sua equipe.

  • • Aprendizado ativo e estratégias de aprendizado totalmente alinhadas com o conceito do lifelong learning, ou seja, aprendizado contínuo por toda a nossa vida:
  1. Aprendizado ativo: entender as implicações de novas informações para a solução de problemas e tomada de decisão atuais e futuras;
  2. Estratégias de aprendizado: Selecionar e usar o método e procedimento de aprendizado mais apropriado a cada situação.

Em qualquer nível, os requerimentos de conhecimento estão cada dia mais abrangentes e em mutação. O que era um diferencial há 10 anos, hoje é commodity. Aqui, de maneira muito interessante, os essential skills encontram os hard skills, em que a habilidade do aprendizado contínuo nos permite fazer com que sigamos relevantes em nossos conhecimentos. Um exemplo: conseguem imaginar um Conselheiro de Administração sem conhecer conceitos de transformação digital, segurança cibernética, mudança climática ou energia renovável? Ou seja, não basta ter sido um(a) CEO ou CFO de sucesso para sentar-se ali!

  • • Resiliência, tolerância ao estresse e flexibilidade – aqui, já é questão de sobrevivência para cada um de nós:
  1. Capacidade de adaptação a mudanças e flexibilidade: Ser aberto a mudanças (positivas ou negativas) e variedade considerável no ambiente de trabalho;
  2. Autocontrole: Manter a compostura, cuidar das suas emoções, controlar a raiva e evitar comportamentos agressivos, mesmo nas situações difíceis;
  3. Tolerância ao estresse: Aceitar críticas e lidar com calma e eficiência em situações de alto estresse.

Muitos devem estar pensando “fácil de falar, difícil de fazer”. Verdade! Porém, não muda o fato de que precisamos buscar essas habilidades em nossas vidas, sob o risco de tornarmos profissionais inviáveis, como aqueles que estagnaram em suas carreiras, ou progredirmos às custas de nossa felicidade e daqueles que nos amam. Ou seja, é inescapável.

A lista é profunda e extensa, mas, no fundo, trata-se da velha busca pelo autoconhecimento, pela nossa evolução como seres humanos através do desenvolvimento de nossas virtudes e busca da felicidade por sermos pessoas completas e equilibradas nas várias facetas de nossas vidas. Em resumo, falamos do reconhecimento, atenção e acolhimento das várias “personas” que habitam em nós.

Para uns, essa busca se dará através da luta, do esporte, da filosofia dos Estoicos, do aprofundamento nos caminhos espirituais, práticas terapêuticas ou, mais provavelmente, por uma combinação dessas e de outras estratégias. Ser capaz de pensar antes de agir e, especialmente, antes de reagir, além de nunca mandar aquela mensagem quando está nervoso(a) e eleger bons modelos como referência: “o que aquela pessoa faria neste momento”. Isso ajuda muito!

Contudo, o importante é que os essential skills, tão cientificamente analisados pelo Fórum Econômico Mundial, nada mais são que um chamado para trazermos o nosso lado humano para dentro dos ambientes de trabalho e nos engajarmos em nosso próprio crescimento.

Por fim, como não poderia deixar de ser, deixo um pensamento do Marco Aurélio, uma das referências da filosofia Estoica e imperador romano: “Tudo de que precisas é isto: certeza de julgamento no momento presente; ação para o bem comum no momento presente; e uma atitude de gratidão no momento presente por tudo que te ocorra.”

Um abraço e até a próxima!

Arthur Azevedo

Finance Career Mentor

Arthur Azevedo tem 34 anos de experiência na área de Finanças, tendo ocupado posições de liderança e gestão de pessoas nos últimos 27 e atuado como CFO por 11 anos. Trabalhou em várias localidades, incluindo Brasil, Estados Unidos e Europa. Atuou como CFO Global da Embraco, CFO Latam da Whirlpool Corporation e CFO Brasil da Transpetro, Cacau Show, Brasil Brokers e Tecumseh. É formado em Administração de Empresas pela Fundação Mineira de Educação e Cultura, com MBA pela Business School São Paulo com certificado como conselheiro pelo INSEAD (França e Singapura) e IBGC. É fundador da Arthur Azevedo Consultoria de Gestão & Mentoria. É casado, pai de dois filhos e apaixonado por corridas de rua.