Mentoria de Carreira

A Assetz Expert Recruitment promoveu, na última quinta-feira (23), a terceira edição do Programa de Mentoria de Carreira com CFOs. O convidado foi Maurício Rodrigues, VP de Finanças da Bayer Crop Science e, assim como os demais encontros, o evento foi realizado na sede da empresa, em São Paulo.

Influência. Sem dúvida, a palavra mais usada na noite. Hoje, com uma longa trilha profissional no mercado de Finanças, Maurício Rodrigues entende que é muito difícil mudar completamente a cultura de um lugar ou de uma instituição, mas é possível influenciá-la. A palavra também foi relacionada a questões de liderança. “Não é possível liderar sozinho, sua influência tem que permear na organização”, declara Maurício. “É preciso definirmos que tipo de líder queremos ser: inspirar é muito diferente de impor”, completa.

O tema também foi abordado quando a rotina de trabalho foi colocada em pauta. O VP ressalta que um excelente CFO é aquele que influencia seus pares, corrige a rota da empresa de acordo com a estratégia, atua próximo ao negócio e trabalha na prevenção de problemas – e não apenas na solução.

Formado em Engenharia Civil pela Poli-USP, Maurício conta que gostaria de seguir carreira na área, mas teve a oportunidade de trabalhar em um banco de investimento e passou a se interessar mais pela área de Finanças. Depois de uma breve experiência no mercado financeiro, entrou para o time da Monsanto em 1999, empresa na qual conseguiu se desenvolver até chegar à cadeira de VP de Finanças. Nesses quase 20 anos, passou por 13 funções diferentes em 3 países, o que contribuiu significativamente para exercer as atividades da função que ocupa hoje.

Para os profissionais que se preocupam em conhecer diferentes culturas empresariais e setores, o Executivo afirma que não há tempo certo para ficar em uma companhia. “Claro que já me questionei muitas vezes sobre sair ou ficar na companhia. Se não tivesse passado por altos e baixos, algo estaria errado”, brinca. “Não tem receita, é um relacionamento e, como em todos os relacionamentos, ele tem que ser bom para ambas as partes. Fique na empresa enquanto ainda achar que há oportunidade para se desenvolver internamente, mas nunca se feche para oportunidades externas”, completa.

Com grande conhecimento no setor de agronegócio, Rodrigues explica que o profissional de finanças da área enfrenta algumas peculiaridades e desafios, como: ter poucos dados para análises mais assertivas; uma produtividade atrelada a fatores externos – como clima; uma tomada de decisões que impactam o negócio a longo prazo, por conta do período de colheita; e a execução, por parte do produtor, das decisões tomadas pela empresa. Por isso, é tão importante a comunicação entre as áreas, estabelecer e monitorar os KPI´s mais importantes para o cumprimento da estratégia e dos riscos e identificar profissionais que entendam do negócio e não se prendam apenas aos números.

Nessa trajetória, Maurício se apaixonou pela área de Planejamento Financeiro e Análise. O VP conta que, ao entrar na área de FP&A, começou a frequentar rodas de discussões com grandes executivos da companhia. Em diversas ocasiões, participou de reuniões mais intensas e precisou de um período de adaptação a esta nova realidade: “Um dos feedbacks mais engraçados que eu recebi foi que, durante as reuniões, eu era muito educado – e que isso era um ponto a ser desenvolvido”, comenta. “Mais para frente, eu entendi o que meu chefe queria dizer: era preciso me impor mais, pois somente assim poderia ser ouvido e contribuir efetivamente com as decisões”, conta.

Em um certo momento, o seu cargo de FP&A no Brasil foi extinto e foi convidado a trabalhar em Saint Louis (EUA). Apesar de nunca ter tido o sonho de ser expatriado, Maurício conta que foi uma das melhores experiências profissionais e pessoais de sua vida. Nos Estados Unidos, teve que se adaptar a culturas rígidas de prazo e horários, aprender a dizer não e ser um bom interlocutor – precisou se adaptar e preparar relatórios mais objetivos aos seus superiores, entendendo qual informação ele realmente precisavam saber.  Além disso, deixou sua marca no time que liderava, já que mostrou para a equipe o quão importante é ser mais flexível e criativo em cenários adversos.

Na sequência, mais um choque cultural. Maurício foi transferido para o México e teve que deixar de lado alguns aprendizados americanos. “Nesse período fora do país, percebi que, além de participar dos treinamentos de cultura ministrados pelas organizações, é preciso viver o dia a dia do local para entender como temos que nos adaptar e realmente contribuir com o time”, ressalta.

Sua carreira até 2003 tinha sido meteórica, já que chegou a ocupar a posição de tesoureiro na operação brasileira aos 20 e poucos anos. A partir deste momento, o ritmo de crescimento diminuiu e passou a fazer transições horizontais de função e cargo – o que considera ter sido fundamental para se tornar um líder de Finanças mais sólido. “Tive que lidar com a frustração de movimentações laterais, mas agora vejo que o processo foi, apesar de longo,  necessário”. Nos EUA, chegou a ocupar a posição de Analista do CFO. “No começo, a sensação era de ter voltado vários passos na carreira – mas depois entendi a real responsabilidade da função e percebi que o americano não se importa somente com a nomenclatura da função”, comenta. “Afinal, eu realizava análises, ou seja, eu era um analista”, brinca.

Sobre seu desenvolvimento como líder, reconhece que realmente entendeu o que é liderar quando foi responsável por uma área que ele não detinha o conhecimento técnico. “Só quando você não é a pessoa mais capacitada tecnicamente da equipe que percebe o valor do time”, conta. “Somos treinados para sermos o protagonista, o vencedor solitário desde a faculdade. Hoje, entendo qual é o verdadeiro conceito e importância da palavra time”, completa. Rodrigues ressalta ainda que visa desenvolver líderes melhores do que ele e empoderar os profissionais, cada um com seu grau de maturidade.

Quando ocupava a posição de VP de Finanças da América do Sul, a Monsanto foi adquirida pela Bayer. O período seguinte foi de adaptação a uma nova cultura (alemã) e ao novo estilo de gestão. “A Monsanto era minha família, eu estava há 19 anos na companhia e já tinha me provado. A sensação de alguém comprar a sua família é um tanto quanto estranha e o desafio de ter que se provar novamente para pessoas que não te conhecem é imenso”, conta.

Por fim, comentou os desafios do Finance Transformation – área em alta internamente nas mais variadas companhias e que lida com as transformações digitais disruptivas nas atividades de finanças. Rodrigues tem a sensação de que a primeira reação das pessoas é ir contra a tecnologia, mas a transformação que acontece agora é tão grande quanto outras pelas quais a humanidade já passou. “Em toda revolução tecnológica, algumas profissões ficaram para trás. Dessa vez, não vai ser diferente. Cabe a cada um de nós entender para onde estamos indo e como podemos se adaptar a esta nova realidade. Em Finanças, por exemplo, precisamos adicionar valor nas informações e dados para apresentar algo além dos números”,  reforça.

Depois de ter tido a oportunidade de ter a referência de outros negros atuando em posições de destaque no mercado de trabalho dos Estados Unidos, Maurício se sentiu na obrigação de servir como inspiração para jovens brasileiros que buscam crescer na carreira e ocupar posições de liderança em multinacionais. “As pessoas precisam de referências para se sentirem motivadas. Posso citar aqui muitos jogadores de futebol negros com carreiras brilhantes, mas é muito difícil lembrar de um CEO”. Recentemente, participou de um evento na Bayer chamado Juventude Negra, que discutiu questões sobre carreira, desafios, importância da formação e outras questões relacionadas à vida profissional para os jovens negros. No entanto, mais do que colocar esses assuntos em pauta, o objetivo do encontro foi fazer com que esses jovens se sentissem acolhidos em uma instituição do porte da empresa. “Eles precisam saber que, apesar de todos os desafios que encontrarão pelo caminho, é uma carreira possível e bastante recompensadora. Participar do Juventude Negra dentro da empresa que trabalho foi um dos momentos mais importantes da minha jornada profissional”, finaliza.