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Apesar da vasta experiência acumulada, os profissionais com mais de 50 anos de idade e que estão em transição de carreira enfrentam uma dura realidade no momento de recolocação no mercado de trabalho mesmo que, em muitos casos, flexibilizem o pacote de remuneração. De acordo com a Pesquisa Nacional de Domicílios do IBGE, dos 1,5 milhão de desempregados nos últimos 12 meses, 1,4 milhão estão na faixa entre 30 e 64 anos e um terço desse total está entre 50 e 64 anos.

Se explorarmos mais esta faixa etária, o desafio é ainda maior. Ainda, segundo a Pnad Contínua do IBGE, dos 20,2 milhões de trabalhadores com mais de 65 anos, somente 13,4% compõem a força de trabalho, sendo que 13,1% deles trabalhando e apenas 0,3% à procura de emprego. Os outros quase 87% estão fora do sistema.

Esses dados nos ajudam a entender que transformações serão necessárias no mundo corporativo brasileiro com a Reforma da Previdência, afinal, a idade mínima para conseguir acessar a aposentadoria passa a ser de 65 anos – com exceção a alguns cargos mantidos como casos especiais pela Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 287.

Desde o fim do ano passado, os debates em torno do tema chamam a atenção para um ponto de mudança crucial: como as empresas enxergam esses profissionais mais seniores em seus processos seletivos? Sem dúvidas, será necessário deixar de lado alguns estigmas e preconceitos – como o de terem “menos energia” e acompanharem de forma mais lenta algumas transformações tecnológicas. Atualmente, o que ocorre é que, para profissionais com mais de 50 anos, nem sempre são avaliadas somente as competências técnicas na hora de analisar a capacidade de desempenhar uma determinada função ou escopo de trabalho. Infelizmente, estereótipos ainda existem e é comum surgirem questionamentos anteriores a esta análise, como suas habilidades tecnológicas e seu nível de energia para acompanhar o ritmo da companhia e das funções atribuídas ao cargo.

Em um estudo recente, liderado este ano pela IBM e pela Oxford Economics, aponta-se que companhias que investem em diversidade, inclusive de gerações, reportam receitas maiores, crescimentos nos lucros, são mais inovadoras e possuem os colaboradores mais satisfeitos. Essa é uma oportunidade de empresas especializadas em recrutamento e seleção aprimorarem seus serviços e auxiliarem na inserção desses profissionais no mercado, com provocações positivas aos requisitantes sobre a abertura em receber perfis diversos para a posição em questão.

Para Guilherme Federico Malfi, profissionais mais seniores possuem bagagem e “casco duro” nas relações interpessoais e, em muitos casos, expressam grande capacidade de agregar e compartilhar conhecimento – vantagens muito valorizadas, considerando as taxas de depressão e o perfil comportamental clássico da geração Z. Além disso, candidatos mais experientes tendem a terem softs skills relevantes para o bom desempenho em cargos de liderança e de gestão de crises. Se considerarmos os Executivos de Finanças, por exemplo, os que estão há mais tempo no mercado já enfrentaram diferentes cenários políticos e passaram por grandes volatilidades econômicas, o que lhes propiciaram o desenvolvimento de sua capacidade de adaptação e de flexibilidade para lidar com situações adversas.

Uma saída interessante para profissionais com mais de 55 anos, pela ótica de Ivan Zarur, seria a de avaliar oportunidades de trabalho em empresas familiares. Muitos profissionais, ao chegarem a esta idade, repensam sua carreira, considerando o tempo que ainda têm de contribuição e de que forma querem concluir o seu ciclo profissional. Nas empresas familiares, por exemplo, a senioridade e a bagagem trazidas por um profissional experiente e a sua contribuição para o desenvolvimento profissional das próximas gerações da linha de sucessão familiar traz ganhos para os todos os lados.

Portanto, o cenário exige criatividade, mas ainda há caminhos bem interessantes a serem trilhados. Ser um profissional com mais de 55 anos significa ter grande experiência técnica e bagagem emocional, atributos que as empresas passarão a valorizar com a crescente necessidade de mão de obra qualificada no mercado. Aos profissionais, a dica é: valorizem-se! Afinal, sua trajetória é fruto de muitos anos percorrendo os altos e baixos do mundo corporativo.